1A humanidade é obrigada a lutar.
A vida duma pessoa é longa e dura;
os seus dias são semelhantes aos dum assalariado.
2 É como um escravo que suspira pela sombra, pelo fim do dia;
como um assalariado, que suspira pelo seu salário.
3 A mim também me deram meses de frustração,
com longas e pesadas noites.
4 Quando vou para a cama penso:
‘Oh! Se fosse já de manhã!’
E assim me agito até que o Sol nasce.
5 Tenho a pele cheia de vermes e de terra;
A minha carne abre-se com chagas, cheias de pus.
6 Os meus dias passam mais rápido
que a lançadeira do tecelão que não para;
um segue-se ao outro sem esperança alguma.
7 Lembra-te de que a minha vida é como o vento que passa sem deixar rasto;
nada fica de bom.
8 Estão a ver-me, neste momento,
mas não será por muito mais tempo;
em breve estarão a ver apenas um morto.
9 Da mesma forma que a nuvem se desfaz e desaparece,
assim os que descem ao mundo dos mortos[a], se vão para sempre.
10 Vão-se para sempre das suas famílias, dos seus lares;
nunca mais serão vistos.
11 Ah! Deixa-me expressar a minha angústia!
Quero sentir-me livre para dizer
toda a amargura que me vai na alma.
12 Ó Deus, serei eu o mar ou algum grande animal marinho,
para que ponhas um guarda sempre a meu lado?
13 Tento esquecer a minha miséria no sono.
14 Mas tu horrorizas-me com pesadelos.
15 Preferia antes morrer estrangulado,
a continuar a viver sempre assim.
16 Desprezo a minha vida;
não quero viver para sempre!
Deixa-me sozinho,
pois os meus dias não têm sentido.
17 Que vale um simples homem,
para que lhe dês tanta atenção?
18 Será obrigatório que sejas o seu inquisidor logo de manhã
e fiques a experimentá-lo cada momento do dia?
19 Porque não me deixas só,
nem mesmo o tempo de engolir a saliva?
20 Feriu-te o meu pecado, ó meu Deus, guarda da humanidade?
Por que razão fizeste de mim o teu alvo preferido,
tornando-me a vida num pesado fardo?
21 Porque não perdoas, enfim, o meu pecado
e não o atiras para longe?
Porque em breve jazerei debaixo da terra, morto;
quando forem à minha procura, já terei desaparecido.”
Footnotes
- 7.9 No hebraico, Sheol, é traduzido, ao longo do livro, por mundo dos mortos. Segundo o pensamento hebraico do Antigo Testamento, é o lugar dos mortos, mas não necessariamente como um sepulcro ou sepultura, que é um lugar de morte e definhamento, mas sim um lugar de existência consciente, embora sombria e infeliz.